
Vanize Maria Gomes da Silva
A representatividade é um tema crucial quando se trata da participação das mulheres negras em espaços de poder. Apesar dos avanços em termos de igualdade e equidade, a população negra ainda enfrenta desigualdades significativas, especialmente no mercado de trabalho.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE), no Brasil a maioria da população é composta por pessoas negras, representando cerca de 56% do total. No entanto, quando olhamos para o Congresso Nacional, apenas 2% das mulheres são negras. Essa disparidade evidencia a existência de preconceitos e barreiras que limitam a participação política das mulheres negras. Para compreender as razões por trás dessa baixa representatividade, devemos considerar o racismo estrutural, o machismo e a falta de oportunidades oferecidas pelos partidos políticos.
O racismo estrutural é um dos principais obstáculos enfrentados pelas mulheres negras na sociedade brasileira. A discriminação racial contribui para a exclusão dessas mulheres em diversos aspectos, incluindo acesso à educação de qualidade, capital social, oportunidades de trabalho e representatividade política. O racismo é alimentado por estereótipos e preconceitos arraigados na sociedade, que associam competência política a um perfil masculino, branco, heterossexual, casado e de boa posição econômica e social. Esses estereótipos limitam as possibilidades de ascensão das mulheres negras na política.
Além do racismo, as mulheres negras enfrentam uma dupla discriminação, que inclui o machismo. A divisão desigual do trabalho doméstico e a responsabilidade pela criação dos filhos têm um impacto significativo na participação política dessas mulheres. A sobrecarga de tarefas domésticas e cuidados impede que elas dediquem tempo e energia para se envolverem na política. Essa desigualdade de gênero perpetua a sub-representação das mulheres negras nos espaços de poder.
A falta de comprometimento dos partidos políticos em promover a diversidade é outro fator que contribui para a baixa representatividade das mulheres negras na política brasileira. Apesar da existência de cotas para candidaturas femininas, não há cotas específicas para candidaturas étnicas. Isso resulta em uma representação desproporcional, onde mulheres negras são sub-representação e têm menos acesso aos recursos partidários. Para reverter essa situação, é necessário que as instituições do sistema político eleitoral se comprometam em promover mudanças e adotar medidas para alcançar a igualdade de participação.
A representatividade é fundamental para garantir que as vozes das mulheres negras sejam ouvidas e suas demandas sejam atendidas. Quando mulheres negras ocupam espaços de poder, elas podem trazer perspectivas únicas e experiências que refletem a realidade da população negra. Isso contribui para a formulação de políticas mais inclusivas, que abordem as desigualdades raciais e de gênero de forma efetiva. Além disso, a representatividade inspira outras mulheres negras a acreditarem em seu potencial e a buscar posições de liderança.
Para promover uma maior representatividade das mulheres negras nos espaços de poder, é necessário adotar medidas específicas. Isso inclui o recrutamento e a formação de mulheres candidatas, bem como a modificação dos procedimentos eleitorais para estabelecer metas e cotas. Além disso, é importante garantir o acesso a recursos partidários e promover uma maior conscientização sobre a importância da diversidade na política.
A representatividade das mulheres negras nos espaços de poder é fundamental para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Superar as barreiras do racismo estrutural e do machismo é essencial para promover a participação política dessas mulheres. Os partidos políticos também têm um papel importante a desempenhar, adotando medidas para garantir uma maior diversidade em suas fileiras. A representatividade não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma maneira de promover políticas mais inclusivas e abrangentes. A luta pela representatividade das mulheres negras é uma luta por um país melhor e mais igualitário.
*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião da JSB.