A Juventude Socialista Brasileira e o Movimento Mutirão decidiram romper com a chapa majoritária, com a qual a JSB mantinha aliança há mais de 30 anos, e apresentaram chapa própria durante o 54º Congresso da UNE.
A chapa intitulada "Contra os cortes, Coragem pra Mudar", entendeu que a lógica de aparelhamento da entidade, assim como a lógica da UNE atualmente de fazer-se meio de campo entre os estudantes e o governo, ao invés de fazer enfrentamento às medidas que prejudicam os estudantes e a sociedade, não representam os anseios dos estudantes brasileiros. Entendemos que a UNE deve ser mais. Deve ser forte, combativa, de esquerda, defensora da educação, representativa, plural e que respeite as diferentes ideologias que se mostram dentro do movimento estudantil nacional.
Mesmo sem chances de vitória, nos propomos a apresentar um projeto diferente, uma nova opção, a marcação de uma nova posição. Propomos e lutamos por uma entidade mais democrática, que receba uma reforma em seu sistema de eleições, impedindo o atual modelo, que acaba por ser muito pouco representativo de fato. A JSB defende e defendeu nesse congresso as Diretas Já na UNE, com a força e a participação dos estudantes de todo o Brasil!
Em nossos seminários e conversas contamos, em um deles, com a participação da dirigente nacional Mari Trindade, que trouxe reflexões extremamente importantes para nossa juventude, e introduziu uma das linhas de nosso congresso: o protagonismo feminino e feminista.
As companheiras, mulheres da JSB, foram frente, em tese e em linha. Sem pedir licença, sem pedir espaço. O espaço da JSB nesse CONUNE foi, prioritariamente e naturalmente, de mulheres. E esse crescimento, essa forma de organização, é extremamente positiva e um avanço tanto para a juventude quanto para o movimento estudantil e sociedade.
Esse Congresso da UNE foi diferente. Foi marcante e histórico, e se não fosse pela nossa militância, não teríamos a força e a coragem necessárias para transformar esse congresso em história, em um divisor de águas para a nossa organização.
A JSB Nacional agradece a todos e todas, e conta com vocês, com sua garra, com sua força, para superar os novos desafios que se apresentam agora e se apresentarão, certamente, no futuro.
Veja o vídeo da participação da JSB no 54º Congresso da UNE disponível no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=YCHXQ6QikZo
Veja a tese de Movimento Estudantil apresentada pela JSB no 54º CONUNE:
"A história das principais mudanças políticas do Brasil sempre estiveram diretamente vinculadas à história de construção e mobilização do movimento estudantil em nosso país. As(os) estudantes organizados sempre tiveram protagonismo essencial para imbricar as principais transformações sociais, econômicas, culturas e educacionais de nossa nação.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) teve ao longo de muitas décadas, desde sua fundação em 1937, a capacidade de sinergia do potencial transformador de nossos estudantes e fazer com que essa se potencializasse e conseguisse pautar os rumos de nosso país. Vimos isso ao longo do processo da mobilização pelo Petróleo é Nosso, contra a Ditadura Militar, da busca pela redemocratização de nosso país, das lutas dos caras pintadas e de tantos outros marcos político- históricos de nossa Nação.
Na contramão desse histórico de lutas e enfrentamentos aos governos e forças opressoras de nosso país, vem a atual organização de nossa entidade. Ainda sendo o fórum de representação legítimo e reivindicado por nossas forças, precisa ser pautado firmemente e criticamente em sua atual organização, que mantém a entidade aparelhada, verticalizada, personalista e presa em processos viciados para a manutenção da majoritária no poder, majoritária essa que utiliza a entidade para seus próprios fins, entre estes a defesa de pautas governistas e a desvalorização do movimento estudantil que critica o governo federal. Nossa entidade deve passar por um processo sério de reorganização e reforma, e deve recuperar a força e a capacidade de reivindicação e crítica às medidas que precarizam a educação brasileira.
A UNE precisa voltar a ser a UNE de Honestino que se encontrava nas ruas e nas universidades pautando a democracia, a politica nacional e os direitos dos estudantes. Hoje a atuação direção da UNE não se faz presente diariamente nos principais fóruns das universidades e não consegue compreender a nova forma dos estudantes se organizarem através de extensões, pesquisa, empresas juniores e coletivos. Não precisamos de uma entidade que tende centralizar os processos de organização e eferverscência estudantil, precisamos de uma entidade que respeite a organização própria dos estudantes e saiba potencializar suas lutas. Pensando nesse novo modelo de entidade conseguiremos aglomerar as mais diversas forças para trabalhar pelas pautas que realmente interessem!
Paridade Já!
Precisamos valorizar e reconhecer a importância do corpo discente e administrativo, universidade não é feita somente de livros e professores. Acreditamos que a composição dos conselhos superiores, eleição para reitoria e diretoria devem acontecer de forma paritária entre estudantes, professores e funcionários. Somente assim a universidade vai conseguir amenizar o corporativismo do corpo docente e as relações políticas internas que muitas vezes prejudicam a gestão dentro das unidades acadêmicas. Uma universidade para todos é uma universidade feita e votada por todos igualmente.
Universidades livres de machismo
Mesmo no ambiente universitário, onde as discussões de gênero são tão presentes, as mulheres ainda sofrem com assédios morais e sexuais por parte de professores e colegas, e isso só ocorre porque nos encontramos em uma estrutura social ainda impregnada pelo machismo. Precisamos criar mecanismo eficientes de denúncia interna nas universidades que possibilite a aplicação de medidas socioeducativas para aqueles que ainda não conseguiram compreender a importância da igualdade de gênero.
Precisamos também de uma infraestrutura universitária que garanta a continuidade dos estudos de jovens mães estudantes e trabalhadoras que cumprem tripla jornada e não contam com estrutura da universidade para continuar sua graduação ou pós não apenas durante o período de licença maternidade, mas também tendo a universidade a compreensão da estrutura demandada para a permanência estudantil materna.
Autonomia e companheirismo para os movimentos sociais!
Entendemos que as pautas sociais são imprescindíveis para garantir os avanços e as discussões de nossa sociedade, e por isso compreendemos a necessidade da União Nacional de Estudantes estar presente e apoiando firmemente as discussões, principalmente dos movimentos de combate ao machismo, ao racismo e à homofobia. Estar ao lado dos movimentos sociais é dar estrutura e trazê-los para dentro dos debates e da convivência tanto da UNE quanto universitária cotidiana. Porém, entendemos que apoiar os movimentos não consiste em criar novos grupos pertencentes à entidade para debater as pautas desses movimentos, não é nos apropriarmos de pautas que vem sendo debatidas há décadas por outrem e que merecem ser respeitadas. Essa diretriz procura respeitar os movimentos sociais históricos e buscar a unidade compreendendo o movimento estudantil como um movimento social responsável e companheiro das discussões e das pautas sociais, não apropriando-se de pautas que já tem seus construtores ativos e necessitando de espaços para os debates.
Na defesa das Cotas Raciais e Sociais
Nos últimos anos passamos por um processo de ampliação e pluralização da universidade através da implementação das cotas raiais e sociais. Uma vitória para todo Brasil que faz com que o ensino superior seja mais democrático e abarque todas as classes e cores. Precisamos continuar avançando para cada vez mais enegrecer a universidade! Precisamos continuar discutindo o racismo em nossa sociedade, precisamos avançar nos pontos que percebem a necessidade de políticas públicas que garantam não só a entrada, mas também a permanência do(a) estudante cotista na universidade.
Assistência Estudantil – Um Direito do estudante e um Dever do Estado
O movimento estudantil precisa ser protagonista no debate sobre a Assistência Estudantil, compreendendo o tema de forma ampla: pensar em um modelo de educação superior que permita ao estudante o acesso e permanência pleno à educação. Deve-se construir uma Universidade capaz de refletir a diversidade cultural, de gênero e de etnia de nosso país e romper com o caráter ainda elitista dessas instituições. Por isso a fundamental necessidade da defesa das cotas sociais e raciais; da construção de creches universitárias gratuitas para filhos e filhas de trabalhadoras, professoras e estudantes; da disponibilização gratuita de material de curso para alunos de baixa renda, que possuem atualmente muita dificuldade de arcar com os altos custos da vida acadêmica; da discussão sobre a moradia estudantil e das casas do estudante; da criação de um Programa Nacional de Monitoria para Estudantes Indígenas; da ampliação das Bibliotecas Universitárias; do aumento dos valores das Bolsas Permanências; e do estabelecimento de um percentual mínimo de investimento em assistência estudantil em todas as Universidades de nosso país.
Passe Livre e Mobilidade Urbana
O Brasil só vai melhorar de verdade quando os jovens forem levados a sério e a Educação passar a ser a prioridade do governo. O governo precisa ter coragem pra mudar e levar o Passe Livre para os estudantes brasileiros de escolas públicas e beneficiários do FIES e PROUNI. Acreditamos que este debate precisa ser nacionalizado.
O Passe livre não se trata de ônibus de graça, esse ônibus tem um custo. O que a união precisa fazer é garantir o direito de ir e vim do estudante e que pague mais quem tem mais dinheiro, que pague menos quem tem menos e quem não tem não pague. Ao invés de gastar dinheiro com a corrupção, com obras inacabadas, com 40 ministérios, com propaganda, com aumento da taxa Selic, etc, defendemos que seja encaminhando uma parte (cerca de 12 bilhões – segundo estudos) para subsidiar o transporte, que é uma real necessidade da juventude brasileira.
Uma Universidade com Extensão, Pesquisa e Ensino
As universidades são constituídas, conhecidamente, por um tripé, que se baseia em: ensino, pesquisa e extensão. A realidade vivenciada hoje pelos estudantes de nossas universidades é a de uma formação muito mais baseada no ensino do que na extensão ou na pesquisa. Esse tripé tem razão de ser, e também é pauta do movimento estudantil que se garanta a efetividade desses três setores, tanto para enriquecer a nossa formação acadêmica quanto para desconstruir os muros invisíveis que apartam nossas universidades da sociedade. Valorizar a extensão e a pesquisa é caminho fundamental para a construção de um novo modelo de universidade, mais conexa às realidades cotidianas de nossa população.
Discutir a reivindicação da obrigatoriedade do cumprimento de horas nas três bases desse tripé para que o estudante se forme pode trazer avanços importantes no tema para o movimento estudantil. É preciso também protagonizar o debate de um modelo de extensão universitária, que esteja calcado em uma relação de diálogo horizontal entre os conhecimentos produzidos na acadêmia e na sociedade – levando em consideração sua diversidade cultural e de formas de expressão de múltiplas de saberes – gerando assim uma formação educacional mais humanizada e emancipadora.
Formação Política pra mudar o movimento estudantil
Hoje passamos por um processo de deslegitimação e despolitização dos debates graças também ao distanciamento da política em relação à população. Esta rejeição criada em relação à política se reflete no movimento estudantil, afastando os estudantes dos debates que acabam tanto se assemelhando com as construções que a política brasileira faz e que afastam a população de suas esferas. Temos que compreender que uma das únicas formas de nossos debates serem efetivos e trazerem a juventude pra discutir e fazer parte do movimento estudantil novamente é a formação política de base. A UNE tem obrigação de fazer formação política de verdade, ir até o estudante, debater mais e despolitizar menos os processos. A entidade deve identificar as discussões, levá-las aos estudantes, trazer as discussões levantadas na base e compreender que o resultado disso é um movimento estudantil maior e mais consciente em suas decisões, que protagonize lutas de forma muito mais coletiva e efetiva.
Diretas já na UNE
A UNE ao longo da sua historia sempre fortaleceu a democracia, participação popular e de defesa das liberdades coletivas e individuais, sendo assim não podemos permitir que em sua construção interna, existam práticas que sejam antagônicas aos seus pilares de existência. Devemos combater aparelhamentos e promover novas estruturas eleitorais que abarquem o máximo de estudantes com direito a participação nos fóruns da União Nacional dos Estudantes.
Chegou o momento da UNE avançar na democratização interna e o caminho são as eleições diretas da UNE que podem permitir um processo de aproximação e identificação do estudante com a entidade. As eleições diretas é a melhor forma de levar a UNE para as universidades nos quatro cantos do país de forma igualitária.
As pautas levantadas por nossa tese nesse congresso vem demarcar uma posição: a de que o movimento estudantil, através de sua entidade nacional, a União Nacional dos Estudantes, deve voltar a protagonizar o debate sobre a educação em nosso país e se posicionar de forma incisiva contra os cortes e a precarização dessa. O movimento estudantil, sendo plural e tendo a responsabilidade de discutir as pautas de todos os setores da sociedade, deve cumprir a agenda de esquerda e combativa por não só uma educação de qualidade, mas uma sociedade mais justa, humana e igualitária.
Temos a compreensão de que ocorreram avanços na educação superior brasileira nos últimos anos, mas muitos desses foram reflexo de lutas que não foram protagonizadas por nossa entidade nacional. Temos a lucidez de compreender que esses avanços em seu método devem ser discutidos, e que investir em programas que aumentem o ingresso nas universidades não autorizam o governo a tomar medidas precarizadoras da educação em diversos sentidos, assim como não pode blindar o mesmo das críticas às alianças conservadoras que faz em sua base governista e ministérios, dando força a campos políticos contrários às mais preciosas agendas da esquerda brasileira.
Entendemos que a União Nacional de Estudantes deve ser protagonista na luta democrática pelas agendas do movimento estudantil, e que não deve pautar-se com base em uma força dominadora. Deve pautar-se, sim, por todos os ideais que a constroem, de forma plural e rica, abarcando as discussões feitas pelos estudantes de nosso país em todos os sentidos, sem deixar o ideal de combate às opressões e de esquerda de lado.
São muitos os desafios que estão colocados no cenário político e econômico de nosso país atualmente, é preciso coragem para enfrentá-los e é somente nas ruas que conseguiremos avançar. Para isso temos que trazer de volta a UNE para junto às bases, só assim construiremos uma nova realidade para a educação de nosso país e a uma sociedade mais equânime e com justiça social."